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Aumento de CO2 atmosférico no desenvolvimento de plantas
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As
mudanças climáticas como o aumento da temperatura e concentração de dióxido de
carbono (CO2) na atmosfera tem impulsionado o desenvolvimento de
pesquisas visando compreender o efeito dessas alterações no crescimento e
desenvolvimento vegetal assim como na ocorrência de doenças e pragas.
O
aumento do CO2 atmosférico tem efeito sobre o comportamento
fisiológico das plantas, já que este regula processos vitais como fotossíntese,
respiração, metabolismo e comportamento estomático. O carbono (C) é utilizado
como substrato na fotossíntese, podendo influenciar de maneira distinta plantas
de metabolismo fotossintético C3 e C4.
DIFERENÇAS ENTRE
PLANTAS C3 E C4
A
diferença está relacionada à fixação do carbono durante a fotossíntese. A
fotossíntese é um processo de transformação da energia luminosa em energia
química, através da luz solar e fixação de carbono proveniente da
atmosfera, sendo composta por duas fases. A fase clara ou etapa
fotoquímica tem como objetivo transformar a energia luminosa em energia
química. A fase escura ou etapa química, não depende diretamente da luz e ocorre
a produção de carboidratos a partir da fixação de CO2.
A dois
caminhos para fixação de CO2, em um deles a via tem início com
a formação de um composto de três carbonos (ácido 3-fosfoglicérico), sendo as
plantas, que usam apenas este mecanismo "padrão", chamadas de plantas
C3. Cerca de 85% das espécies são C3, incluindo arroz, trigo, soja e espécies
arbóreas. Plantas classificadas como C4 desenvolveram um sistema complementar à
via C3, onde ocorre a formação de um composto de quatro carbonos (ácido oxalacético),
sendo esse tipo de fixação característico de plantas mais adaptadas a ambientes
quentes e ensolarados, como algumas gramíneas (cana-de-açúcar, milho, sorgo,
etc).
Estudos
sugerem que plantas C4 respondem menos ao aumento de CO2 do que
as plantas C3, pois já possuem um mecanismo que aumenta a eficiência
fotossintética na fixação do carbono (TAIZ & ZEIGER, 2004), enquanto para
plantas C3, pode haver aumento na taxa fotossintética. O aumento na fixação C
deve-se à repressão da fotorrespiração e ao aumento da oferta do substrato
(POORTER & NAVAS, 2003).
Fotorrespiração: respiração na presença
de luz, onde ocorre a absorção de O2 e liberação de CO2
O
efeito benéfico do aumento de CO2 pode ser anulado se este for
acompanhado de um aumento de temperatura, conforme observado em plantas C3 como
cultivares de arroz (WALTER et al. 2010) e soja (RUIZ-VERA et al. 2013).
Tal hipótese pode ocorrer devido ao encurtamento do ciclo de
desenvolvimento e ao aumento da respiração do tecido vegetal (TAIZ &
ZEIGER, 2004).
Além
disso níveis excessivos de CO2 podem ter ação tóxica nas
plantas, e levar ao fechamento estomático, reduzindo as trocas gasosas e,
consequentemente, a taxa fotossintética (GUARDA & CAMPOS, 2014). A
exposição a altas concentrações de CO2 também pode alterar a
demanda nutricional das plantas por elementos como nitrogênio entre outros, no
entanto, os resultados variam conforme a espécies estudadas e nível nutricional
empregado (PÉREZ LÓPEZ et al., 2014).
Pesquisas
recentes sugerem que o aumento da concentração de CO2, tem levado a
obtenção de plantas com teor de carboidrato superior a proporção de proteína e
nutrientes, considerados importantes para alimentação humana e animal. Uma
meta-análise com observação de diversas espécies de plantas mostrou que a
concentração de minerais totais no tecido vegetal reduziu cerca de 8% em
resposta a níveis elevados de CO2, sendo que 25 minerais como
ferro, zinco, potássio e magnésio tiveram sua concentração reduzida (Loladze,
2002). A correlação entre o aumento de CO2 e a redução no teor
de nutrientes dos alimentos não é totalmente certa assim como a maneira como
isso ocorre, sendo necessário estudos que abordem a oferta de CO2 em
relação com os demais fatores que regulam o crescimento e desenvolvimento
vegetal.
PESQUISAS ENVOLVENDO CO2 E PLANTAS
O
potencial que as plantas possuem em assimilar carbono atmosférico faz com que
estudos sobre o efeito do aumento do CO2 no crescimento,
desenvolvimento e metabolismo sejam cada vez mais necessários, uma vez que tal
resposta depende da espécie vegetal e dos fatores abióticos e bióticos.
Câmaras climáticas para crescimento de plantas como a TE-4002 são capazes
de adicionar e controlar a concentração CO2 e ao mesmo tempo
simular condições de temperatura, umidade e iluminação, tornando-se essenciais
para a realização de pesquisas com esse objetivo, onde é possível obter a
condição desejada e avaliar de maneira precisa o comportamento das plantas.
Além disso, a previsão de que o CO2 atmosférico aumente, devido ao uso intenso de combustíveis fósseis, faz com que o efeito das mudanças climáticas (aumento do CO2 e temperatura, por exemplo) sejam incluídos nos programas de melhoramento genético de plantas, que de modo geral, envolve um longo tempo de estudo e investimento. As câmaras de crescimento com ambiente controlado podem ser empregadas para viabilizar a técnica chamada de “Speed Breeding” (“Reprodução Rápida”) que capaz de reduzir ciclo de melhoramento e acelerar a obtenção de novos cultivares (Ghosh et al., 2018; Watson et al., 2019), otimizando os processos dentro de um programa de melhoramento genético.
A câmara climática para crescimento de plantas disponível nos modelos TE-4002 (uma porta) e TE-4002 (duas portas) é um equipamento de alta precisão, com controle de temperatura, umidade, fotoperíodo e nível de CO2 onde é possível programar facilmente os parâmetros desejados para a realização dos experimentos. O equipamento conta com um sistema de aquisição de dados com amostragem em na coleta das variáveis temperatura e umidade, e possibilita a coleta através de um PEN DRIVE. A câmara permite simular condições previstas para ocorrer futuramente, sendo relevante para avanços na área de pesquisa e desenvolvimento.
REFERÊNCIAS
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ecofisiológicas da assimilação de carbono e suas implicações na produção de
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