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Nitrogênio Coagulável vs Qualidade da Cerveja
TE-182,banho de glicerina,nitrogênio coagulável
A cerveja possui um complexo de aroma e sabor, fazendo dela uma das bebidas mais apreciadas e consumida mundialmente. Definida como uma bebida carbonatada de baixo teor alcoólico, preparada a partir da fermentação por leveduras do malte de cevada, contendo lúpulo e água de boa qualidade, ou outras matérias-primas/aditivos, como arroz, trigo ou milho. Possui em sua composição mais de 450 constituintes e macromoléculas como proteínas, ácidos nucléicos, polissacarídeos e lipídios.
Para a produção de cerveja de alta qualidade é essencial um mosto consistente e de qualidade, sendo necessário a regulação de diferentes parâmetros durante o processo para que esse resultado seja atingido. Diversos parâmetros podem ser analisados para indicar a eficiência do processo de produção do mosto e prever o seu impacto na fermentação e nos estágios posteriores e, consequentemente, no produto final Frações nitrogenadas, como o nitrogênio total e nitrogênio coagulável são alguns dos parâmetros de extrema importância avaliados.
IMPORTÂNCIA DO NITROGÊNIO
As
principais substâncias nitrogenadas no mosto (mistura açucarada destinada a
fermentação) são aminoácidos, peptídeos, polipeptídios, proteínas,
derivados de ácido nucleico, sais de amônio, nitrato e aminas
alifáticas e aromáticas. Os aminoácidos e sais de amônio são importantes fontes
de nitrogênio para nutrição das leveduras, impactando na extensão e atenuação
do crescimento e formação de sabor. Os compostos de nitrogênio de médio e alto
peso molecular influenciam na estabilidade coloidal (ou físico-química), palatabilidade
e na duração do “colarinho” no copo (originado da expressão em inglês “head
retention”).
As principais etapas para uma estabilidade
coloidal adequada envolvem a seleção otimizada da matéria prima, da composição
da água da cerveja, um controlado processo de brassagem (combinação de uma
mistura de grãos e água), fermentação e tempo de estocagem a frio. A melhoria
da estabilidade coloidal da cerveja por meio de aditivos pode ser tomada apenas
como uma medida final.
As proteínas são
derivadas principalmente do malte, sendo influenciadas, modificadas e agregadas
ao longo todo o processo de maltagem e de fabricação de cerveja (Figura 1), tornando
a determinação de proteína seja um importante indicador de qualidade nos
laboratórios das cervejarias e malte para a inspeção de rotina de entrada e
controle de processo, sendo amostrados geralmente as matérias primas, malte,
mosto e cerveja.
Figura 1.
Etapas da produção de cerveja (Carneiro, 2010)
FRAÇÃO
NITROGENADA
O conteúdo total de nitrogênio e
suas várias frações são influenciadas principalmente pela qualidade da matéria
prima, principalmente pela degradação enzimática das proteínas ao longo do
processo de produção da cerveja. O método Kjeldahl é o mais comum para
determinação de nitrogênio, cujo processo é baseado na digestão prévia da
amostra (oxidação de compostos água, dióxido de carbono e amônia), seguida da
destilação de NH3 (amônia) em uma solução de ácido bórico, e
finalmente titulação para determinação do teor de amônia. (MEBAK, 2012)
A fração de nitrogênio total
(950 – 1150 mg/l) no mosto é composto de 22% de nitrogênio de alto peso molecular
(2% de nitrogênio coagulável), 18% de médio e 60% de baixo peso molecular com
34% de nitrogênio formaldeído e 22% de nitrogênio amino livre (FAN).
Dentre as modificações das
frações nitrogenadas ao longo do processo, tem-se o aparecimento do nitrogênio
solúvel, desmembrado no processo de mosturação a partir do nitrogênio total.
Quanto maior a atividade enzimática na degradação de proteínas durante a maltagem
maior será o valor de nitrogênio solúvel.
NITROGÊNIO COAGULÁVEL
A fração nitrogênio
coagulável é composta basicamente de proteínas de alto peso molecular,
principalmente a albumina e a globulina, sendo que a remoção desses compostos é
desejável para a qualidade do produto final. A remoção ocorre principalmente
durante a fervura do mosto, com a coagulação do material nitrogenado (também
chamado de proteína térmica coagulável) que se refere a formação de
flocos através do processo de fervura. A coagulação é afetada por fatores
físicos e tecnológicos como temperatura e intensidade de fervura do mosto, pH,
dosagem de lúpulo e agitação.
De maneira geral,
quanto maior o tempo e intensidade de fervura, mais eficiente será a
coagulação, tornando o nível de nitrogênio coagulável no mosto acabado um
indicador importante para a caracterização da eficiência processo de fervura do
mosto. Mostos
com valores de pH ácidos (alterações por crescimento microbiano), fornecem resultados
de nitrogênio coagulável mais elevados.
O teor de nitrogênio
coagulável no mosto antes do aquecimento está na faixa de 35-70 mg/l e é
reduzido durante a fervura até 15-25 mg/l com um ótimo recomendado valor de
15-18 mg/l (Willaert
& Baron, 2001). Baixo teor de nitrogênio coagulável é benéfico para
uma boa estabilidade coloidal da cerveja, entretanto, um teor elevado contribui
para redução da sua estabilidade, apesar de promover a estabilidade da espuma (pela
precipitação de proteínas com polifenóis). Além de prejudicar o produto final,
altos teores de nitrogênio coagulável pode causar entupimento dos poros da
membrana da levedura nas etapas seguintes de fermentação e maturação.
PADRÃO DE QUALIDADE PARA ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS
A EBC
(European Brewery Convention) ou Convenção Europeia de Cervejas é uma
associação criada em 1947 para estimular o desenvolvimento técnico e científico
das cervejas. As análises desenvolvidas pela EBC têm como objetivo padronizar
estabelecer padrões para indústria cervejeira, garantindo qualidade,
consistência e segurança de bebidas à base de malte e seus ingredientes. Em associação com a EBC, a American Society
of Brewing Chemists (ASBC) e a Mitteleuropãische Brautechnische Analysen Komission
(MEBAK) se dedicam a alcançar métodos de análises aprovados e certificados.
Os métodos
internacionais são embasados nos métodos analíticos da ASBC e MEBAK, elaborados
em acordos entre a ASBC e a EBC. Esses métodos são certificados e validados
através de ensaios de proficiência estabelecidos pela EBC. As
análises físico-químicas realizadas nas cervejarias para controle de qualidade
da produção industrial da cerveja seguem os métodos internacionais
estabelecidos pela EBC e são aprovados pelo órgão fiscalizador brasileiro, o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
DETERMINAÇÃO DE NITROGÊNIO COAGULÁVEL
A determinação de
nitrogênio coagulável é baseada no princípio da precipitação do nitrogênio de
alto peso molecular presente no mosto por fervura da amostra por 5 horas a 105-108°C.
Depois desse procedimento a amostra é analisada usando o método Kjeldahl (Bamforth,2016).
O princípio do teste
se baseia no fato da fervura prolongada do mosto promover a coagulação dos
compostos orgânicos nitrogenados, que após separação por filtragem, o
nitrogênio coagulável é determinado de acordo com o método Kjeldahl. Algumas cervejarias utilizam um agente
acelerador de coagulação com objetivo de reduzir o tempo de fervura.
Para fervura
da amostra é utilizado o banho de glicerina, modelo TE-182, que foi desenvolvido
para o aquecimento amostras em temperatura superior a 100°C (temperatura de
ebulição da água). O equipamento possui circulação interna através de bomba de bronze, que
garante um aquecimento (range de temperatura: Ambiente +7°C a 150°C) eficiente
e homogêneo, assegurando a precisão do resultado final da análise.
Posteriormente, para a
determinação de nitrogênio, a amostra é digerida utilizando o bloco digestor macro com touch screen, modelo TE-0081/50, e galeria exaustora, modelo TE-008/50-GE, neutralizador de gases – scrubber, modelo TE-152, seguida
de destilação no destilador de nitrogênio automático, modelo TE-0366, ou destilador de nitrogênio, modelo TE-0364.
Após a digestão e destilação, o nitrogênio amoniacal
é obtido por titulação, com a bureta digital, modelo 9392050, ou titulador potenciométrico automático, modelo KEM-AT-710S.
SOBRE
A TECNAL
A Tecnal tem como missão contribuir para o desenvolvimento
científico, tecnológico e com a indústria nacional e internacional por meio da
fabricação e da comercialização de equipamentos científicos, da prestação
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na continuidade e na excelência operacional, de forma a tornar-se uma
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REFERÊNCIAS
Bamforth, C. W. (Ed.),
Brewing Materials and Processes: A Practical Approach to Beer Excellence. 2016.
Elsevier.
Carneiro, Diego Dias. Estudo Computacional da Etapa Fermentativa da
Produção de Cerveja e Proposta de Uma Estratégia de Controle para o Processo.
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Instituto de Tecnologia Programa
de Pós-Graduação Em Ciência e Tecnologia de Alimentos. 2010
MEBAK Wort, Beer, Beer-Based Beverages, 1st Edition 2012.
Willaert,
Ronnie. (2001). Wort boiling today. Cerevisia - Belgian Journal of Brewing and
Biotechnology. 26.
217-230.