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Atividade Enzimática: Indicador biológico da qualidade do solo
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A determinação da atividade de enzimas do
solo é uma das maneiras de avaliar a atividade dos microrganismos e
se caracteriza como um dos tipos de análise microbiológica do solo. A contagem de microrganismos e a análise
genética também são tipos de análise microbiológicas, utilizadas para
avaliar a “saúde” do solo.
Saiba mais sobre a Microbiologia do solo e sua importância para sustentabilidade agrícola no
conteúdo exclusivo.
Visando a agregar o componente biológico
á análises de rotina de solos, o uso de análises microbiológicas do solo
vem crescendo em ritmo acelerado, maximizando a avaliação da qualidade e
potencial
produtivo do solo.
A grande vantagem em incluir indicadores
microbiológicos é que eles são mais sensíveis que indicadores químicos e
físicos, sinalizando com maior antecedência as alterações que ocorrem no
solo, em função do seu uso e manejo.
Atividade enzimática
Embora a contagem de microrganismos seja algo
simples, ela pode subestimar a comunidade microbiana, já que algumas espécies
não crescem em meios de cultura artificiais. Além disso, somente a contagem não
é demonstra o nível de atividade dos microrganismos, sendo necessário a
utilização de parâmetros como a taxa de fixação de nitrogênio, respiração
microbiana, atividade enzimática, etc.
A atividade enzimática do solo é o resultado
do somatório da atividade enzimática dos organismos vivos (plantas,
microrganismos e animais) e das enzimas abiônticas (enzimas associadas à
fração não-viva) que se acumulam no solo, protegidas da ação de proteases, através
da adsorção em partículas de argila e na matéria orgânica do solo
(MENDES et al., 2015).
Após 21 anos de estudo, a Embrapa lançou em
2020 a BioAS – Tecnologia de Bioanálise de Solo. Considerada uma
iniciativa pioneira no mundo, a BioAS é baseada na análise da atividade
das enzimas arilsulfatase e beta-glicosidase, associadas aos
ciclos do enxofre e do carbono, respectivamente.
A arilsulfatase e beta-glicosidase
estão relacionadas, direta ou indiretamente, ao potencial produtivo e à sustentabilidade
do uso do solo, funcionando como bioindicadores e fornecendo parâmetros
para avaliar a saúde dos solos.
Fluxograma demonstrando que o aumento na atividade
biológica é o primeiro degrau na escalada da melhoria de um solo. Fonte:
Extraído de Mendes et al., 2018
A Embrapa estabeleceu valores de referência
para as enzimas em diferentes solos, de modo a avaliar o estado do seu funcionamento
biológico. Valores elevados de atividade enzimática indicam o
emprego de práticas de manejo do solo adequadas e sustentáveis.
Ao contrário, valores baixos servem de alerta ao agricultor para
uma reavaliação do sistema de produção na direção da adoção de boas práticas
de manejo.
Os valores de referência de atividade
enzimática no solo variam em função das diferentes condições
edafoclimáticas e das diferentes culturas. Embora a determinação de enzimas
possa ser realizada para diversas áreas, atualmente, a interpretação dos
resultados propostas pela Embrapa está formatada para culturas anuais de
grãos e fibras cultivadas no bioma Cerrado e no estado do Paraná.
Método de determinação
Os métodos de determinação da arilsulfatase
e beta-glicosidase utilizados no protocolo do IAC (Instituto Agronômico
de Campinas) e Embrapa são baseados no método descrito por Tabatabai (1994). Entretanto,
há uma diferença que é a omissão/retirada do tolueno no procedimento utilizado
pela técnica BioAS, da Embrapa.
A metodologia tem como base a incubação de amostras de solo a uma temperatura a 37°C das com uma solução tamponada de substratos específicos para cada enzima, promovendo a liberação do p-nitrofenol, que é determinado por colorimetria, através de um Espectrofotômetro digital UV/VIS, modelo ESPEC-UV-5100.
Para incubação das amostras pode ser utilizada uma incubadora, modelo TE-371/240L. Além disso, são necessários equipamentos adicionais como agitador de tubos, modelo AP-56/1, banho maria digital, modelo TE-054-MAG ou TE-056-MAG, e balança analítica, modelo SHI-AUY-220.
A fosfatase ácida é uma enzima
encontrada no solo, porém não está incluída na tecnologia da Embrapa, por ser
uma enzima instável e influenciada pelo pH do solo (quando o pH aumenta, o
nível de atividade da fosfatase ácida diminui e vice-versa). Entretanto, a
fosfatase ácida pode ser avaliada em demandas especificas, utilizando os mesmos
equipamentos acima.
·
Qual o
procedimento para a coleta da amostra de solo para análise enzimática?
Para análises enzimáticas de solo é
imprescindível que a profundidade de amostragem seja de 0 a 10 cm,
porque esta é a camada diagnóstica.
O procedimento é similar ao adotado para análise
química do solo. Em áreas sob cultivos anuais, são feitas múltiplas coletas
em linhas e entre linhas do último cultivo para formar uma amostra de solo
composta por várias subamostras.
·
Qual o
período de coleta do solo?
A coleta de solo deve ser efetuada
preferencialmente no fim do período chuvoso, após a colheita das
culturas coincidindo com a amostragem para análise química de solo.
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As amostras
de solo para análise enzimática podem ser armazenadas?
O ideal é enviar as amostras de solo o
quanto antes para análise. Caso não seja possível, as amostras de solo
podem ficar armazenadas em local seco e arejado, sem exposição direta ao solo.
·
Qual o
preparo das amostras de solo para análise de atividade enzimática?
A amostra de solo coletada deve ser seca ao ar e peneirada em peneira com malha de 2 mm. Lima (2021) verificou que a secagem em estufa a 40°C por dois dias não causou alterações expressivas na atividade enzimática. Dessa forma, pode ser utilizada uma Estufa com circulação e renovação de ar, modelo TE-394/2-MP.
·
Como é feita
a interpretação dos indicadores biológicos de qualidade do solo?
Dentro da tecnologia BioAS a interpretação é
feita por meio de algoritmos baseados em análises de regressão que avaliam a
relação entre os níveis de atividade enzimática, o tipo e textura do
solo e o rendimento de grãos das culturas, e ainda entre os níveis de atividade
enzimática e a matéria orgânica do solo. Com essas regressões é possível
delimitar classes de suficiência para os bioindicadores (Muito Elevado,
Elevado, Médio, Baixo e Muito Baixo) conforme figura abaixo.
Laudo e escala de qualidade para classificar
os índices apresentados no laudo da BioAS. Fonte: Embrapa, 2021.
Considerações finais
A atividade enzimática é um indicador
da qualidade do solo de fácil determinação em laboratório, entretanto, para
que ela se torne uma ferramenta usual é necessário que as pesquisas continuem
avançando.
O aprofundamento das pesquisas permitirá a parametrização
de valores de referência que sejam compatíveis com vários tipos de solos e
culturas, fomentando a análise de enzimas como parte das análises de rotina.
A análise do componente biológico do
solo contribui para o estabelecimento de métricas para avaliação de práticas
mais sustentáveis como o uso dos bioinsumos, por exemplo, que podem favorecer a
diversidade biológica e funcional do solo.
Sobre a Tecnal
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Referencias
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Indicadores biológicos e bioquímicos da qualidade do solo: manual técnico.
Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, 2000. 198p. (EMBRAPA Meio Ambiente – Documentos,
21).
EMBRAPA. Tecnologia BioAS: uma maneira simples
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– Planaltina, DF: Embrapa Cerrados, 2021. 50 p. (Documentos / Embrapa Cerrados,
ISSN 1517-5111, ISSN online 2176-5081, 369
LIMA, A. C. A. Efeito da secagem das amostras
de solo nos níveis de atividade das enzimas ß-glicosidase e arilsulfatase.
2021. 32 f., il. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Agronomia)-Universidade
de Brasília, Brasília, 2021. Disponível em: https://bdm.unb.br/bitstream/10483/28444/1/2021_AnaCarolynaAlvesLima_tcc.pdf
MENDES, I. C.; DE SOUSA, D. M. G.; DOS REIS
JUNIOR, F. B. Bioindicadores de qualidade de solo: dos laboratórios de pesquisa
para o campo. Cadernos de Ciência & Tecnologia, v. 32, n. 1/2, 2015
MENDES, I. C. et. al. Bioanálise de solo: como
acessar e interpretar a saúde do solo. Vol. Circular Técnica 38, pp. 24p. 2018.
EMBRAPA, Brasília.
Silveira, A.P.D. et al. Determinação da
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Tabatabai, M. A. (1994). Soil Enzymes. In “Methods of Soil Analysis – Part 2 Microbiological and Biochemical Properties” (R. W. Weaver, S. Angle, P. Bottomley, D. Bezdicek, S. Smith, M. A. Tabatabai, A. Wollum, eds.), pp. 786-944. SSSA, Madison, WI.